Última alteração: 2017-11-16
Resumo
ATENDENDO A DEMANA PSICOLÓGICA De uma comunidade educativa PELO PLANTÃO PSICOLÓGICO: Uma vivência
Marcos Maestri, DPI, UEM, Maringá-PR, Brasil; Camila Schreiner, DPI, UEM, Maringá – PR, Brasil; Eduardo Mitsuakki Panice kakuda, DPI, UEM, Maringá – PR, Brasil; Luana Ramos Rocha, DPI, UEM, Maringá – PR, Brasil.
contato: mmaestri@uem.br
Este trabalho apresenta uma das intervenções da Psicologia Escolar num colégio público de Educação Básica do município de Maringá - PR, realizado pelas estagiárias do quinto ano do curso de psicologia da Universidade Estadual de Maringá. O período de estágio ocorreu ao longo do ano de 2017, com frequência semanal e com permanência de meio período. Dentre as várias e possíveis funções do psicólogo escolar, está o atendimento e acolhimento psicológico da comunidade educativa (direção, coordenação, professores, alunos, agentes educacionais, pais). E como é desempenhada esta função? Através da técnica psicológica do Plantão Psicológico. Visa trabalhar as demandas urgentes e imediatas levantadas pelo indivíduo no momento de tomada de consciência de seu sofrimento psíquico. Trata-se de um atendimento em nível emergencial, distinguindo-se, portanto, de uma psicoterapia tradicional cujas bases e procedimentos caracterizam-se pelo estabelecimento de um “setting” específico: atendimento sistemático e de longo prazo com vistas à uma integração profunda e permanente na pessoa atendida.
Teve, como objetivo geral, abrir um espaço de escuta para a comunidade educativa, a partir da procura espontânea. Em relação à metodologia, o grupo de estágio, sendo em seis integrantes, dividiram-se em dois trios, um no período da manhã e outro no período da tarde. Cada um dos trios, foi apresentado a todas as turmas dos respectivos turnos de estágio. O próximo passo foi fixar cartazes para a divulgação do projeto, no qual constavam sua definição, os horários e as instruções para o agendamento de atendimento. Após esta apresentação em sala de aula, os alunos começaram, de forma espontânea, a sala da pedagogia para fazer seu agendamento no caderno disponibilizado, conforme as instruções do cartaz de divulgação, com nome completo, ano e turma. Assim que houve procura, conforme o agendamento, os estagiários começaram a atender os alunos agendados. Pediam permissão para a professora responsável pela sala naquele momento e, com seu consentimento, se dirigiam para a sala de atendimento disponibilizada pela coordenação da escola. O atendimento acontecia de maneira particular, em algumas sessões (de 1 a 3, aproximadamente, conforme a necessidade se apresentasse), onde o estagiário se prontificava a ouvir atentamente qualquer coisa que o aluno tivesse a dizer, possibilitando ao aluno a oportunidade de ser ouvido, dentro do sigilo ético da profissão. A sessão tinha a duração que o aluno julgasse necessária para falar, durando em torno de 50 minutos, aproximadamente. Findada a sessão, o aluno era liberado para voltar à aula, e era de escolha do mesmo, ser atendido na próxima semana ou não e encaminhamentos, se necessário.
Carl Rogers, psicoterapeuta americano que juntamente com outros profissionais e teóricos da Psicologia Contemporânea (Maslow, Frankel, Erickson) acabaram por revolucionar a postura e o entendimento do fazer Psicoterápico, foi um dos fundadores da Psicologia Humanista que dá base ao trabalho no Plantão Psicológico.
A Psicologia Humanista surgiu como resposta à uma “crise” estabelecida entre os paradigmas do Comportamentalismo de um lado e os da Psicanálise do outro. Dividida entre o entendimento do Homem como comportamento resultante das contingências as quais ele é exposto (Comportamentalismo) ou um entendimento pautado nas emoções, desejos e um aparelho psíquico autônomo – inconsciente (Psicanálise), a Psicologia procurava um entendimento do Homem que incorporassem as noções de liberdade, busca de sentido e positividade. O Humanismo surge como resposta a estes anseios, como afirmação de uma positividade na Natureza Humana, não no sentido Rousseauliano (de uma origem boa e pacífica), mas no sentido de uma busca e de uma necessidade de estar se aperfeiçoando, buscando graus cada vez mais elevados de auto integração e realização. A teoria Humanista, e mais precisamente o trabalho de Rogers, acabaram por influenciar inúmeros campos do fazer humano como a educação, o relacionamento familiar, o trabalho etc.
No que concerne ao encontro terapêutico, Rogers afirmou que este deve ser pautado no tripé Empatia, Congruência e Aceitação Incondicional. Empatia entendida como o movimento afetivo-cognitivo do terapeuta em direção à perspectiva fenomenológica do sujeito, ou seja, ao modo como este último percebe e sente o mundo. Por sua vez, Congruência exige do terapeuta que este esteja consciente de seu universo fenomenológico (percepções, sentimentos, juízos etc.) e expresse tal universo na medida em que isto possa auxiliar o indivíduo a tomar contato com seu próprio campo, focando o processo no relacionamento presente entre terapeuta e indivíduo. Finalmente, Aceitação Incondicional diz respeito à postura do terapeuta em criar um “clima” de acolhimento, em que o sujeito possa sentir-se à vontade para expressar-se livremente, sem que tenha que recorrer à papeis ou posturas estereotipadas (MAHFOUD, 1999).
Uma vez que assim se estabeleça o relacionamento entre psicoterapeuta e indivíduo, tal “encontro” resultará na promoção da saúde. Saúde aqui compreendida não apenas como ausência de doença, mas como bem-estar advindo do equilíbrio entre os fatores físicos, psicológicos/afetivos e sociais.
O Plantão psicológico, portanto, é uma prática que pode ajudar o indivíduo a lidar com as dificuldades da vida, podendo repensar e refletir sobre as mais variadas questões que causam diversos níveis de sofrimento. Segundo Moura et al (2014), trabalha-se com as demandas urgentes levantadas pelo indivíduo, se caracterizando por ser um atendimento emergencial, o que lhe diferencia das psicoterapia tradicional. Sua principal proposta, de acordo com Mahfoud (1999), é disponibilizar escuta e acolhimento aos sujeitos.
A especificidade do plantão psicológico, no qual é a própria pessoa quem se inscreve, possibilita ao indivíduo que será acolhido ter alguém com quem possa se referir, avaliar e apoiar. A discussão não permeia apenas a relação de notas ou comportamentos dentro da instituição escolar, mas sobre como o sujeito, com suas particularidades, lida com seu e sofrimentos e queixas. O psicólogo e a experiência do plantão passam, a partir de então, a ser referência para o aluno em outras ocasiões (MAHFOUD, 1999).
Desse modo, o plantão psicológico, através de uma escuta especializada, tem a potencialidade de ajudar o indivíduo atendido a escutar a si próprio, se posicionar frente a seu sofrimento, ter um desenvolvimento pessoal e aumentar sua capacidade de lidar com dificuldades. Além disto, pode ser um meio eficaz de aprendizagem para ao possibilitar o contato com o outro, de modo que o indivíduo se dispõe a refletir sobre seu modo de gerir a vida e expor suas dificuldades e sofrimentos. É importante denotar que tal dispositivos vem sendo utilizado com sucesso no contexto escolar (MAHFOUD, 1999), tradicionalmente no atendimento dos alunos e com resultados que justificam sua continuidade.
Já o aconselhamento psicológico, de acordo com Ratigan (1976) seria “[...] a tarefa de ajudar o homem a atingir o pleno desenvolvimento como ser humano” (p.35), desse modo, o conselheiro ocupa a intrínseca função de auxiliar os sujeitos a fazerem escolhas mais assertivas e alcançarem os objetivos que satisfaçam suas próprias necessidades, dando-lhes o livre direito à escolha, o auxiliando e direcionando a tomá-la, no sentido de ajudá-lo a compreendê-la, com suas motivações e implicações.
O principal objetivo do aconselhamento psicológico é promover o bem-estar psicológico e autonomia do indivíduo, que seja encaminhado para este na busca de uma resolução de problema. Na escola tal serviço se caracteriza por uma curta duração e foco constante, se diferenciando da psicoterapia clássica, além de o aconselhador se tornar um intermediário na escola, que contribui com a identificação dos reais motivos das dificuldades de aprendizagem e em relações interpessoais (RATIGAN, 1976).
O aconselhamento psicológico dentro do contexto escolar ocorre a partir de uma demanda da equipe pedagógica que, ao perceber a necessidade de aconselhamento dos respectivos alunos, realizam as devidas indicações e encaminhamentos.
Como resultado do projeto, foi possível perceber que houve aceitação por parte de um grupo significativo de alunos que se inscreveram e procuraram o Plantão Psicológico. Trouxeram demandas relacionadas a problemas familiares, especificamente, relação pais e filhos, dificuldades no diálogo, alguns casos de abuso sexual por parte de pai em relação às filhas. Problemas de filhos envolvidos com drogas. Dificuldades com a sentido e valorização da vida, aparecendo casos de ideação e tentativas de suicídio, automutilações. Apareceram também questões relacionadas a uma visão de autoestima rebaixada, autoimagem distorcida entre outros assuntos.
Concluiu-se que é uma atividade que precisa ter continuidade nos próximos anos como os outros estagiários, pois é um espaço que muitos alunos não têm em outro lugar e, às vezes, está diretamente ao desempenho escolar. Percebeu-se que os alunos estão quebrando a crença que "psicólogo é só para louco" e que, qualquer pessoa que esteja em dificuldades com seu lado emocional, pode procurar o psicólogo.
Percebeu-se também que é importante a conscientização do corpo docente sobre a importância desse trabalho para que não tenha muita resistência, por parte do professor, quando o aluno é chamado para ser atendido durante o período de aula.
Palavras-chave: Plantão Psicológico. Psicologia Escolar. Serviços de Saúde Mental.
Referências
MAHFOUD, M. Plantão psicológico na escola: uma experiência. In:___. Plantão psicológico: novos horizontes. 1ª ed. Companhia ilimitada: 1999. (p.29-48).
RATIGAN, W. Teoria e prática do aconselhamento na escola. In: STEFFLRE, B. Teorias de aconselhamento. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1976. (p.29-63).