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Um estudo sobre gênero e crenças e atitudes parentais
Selma de Cássia Martinelli, Elaine Cristiane Aguena

Última alteração: 2012-07-13

Resumo


Ao longo dos anos verificamos que o acesso a escola vem aumentando consideravelmente, isso proporcionou o maior número de promoção das mulheres no processo de escolarização. Em 1960, as mulheres tinham menos dois anos de escolaridade em relação a média nacional, o que significa que o acesso à escola era muito baixo e ainda pior para as mulheres (Carvalho, 2003). Com relação ao estudo por faixa etária, acima de 40 anos encontra-se mais mulheres do que homens analfabetos, ao passo que na faixa de 15 a 19 anos há o dobro de rapazes analfabetos em relação a moças analfabetas.

            Este é um dado preocupante, pois, sabe-se que a maioria desses jovens passou por uma instituição educacional e no seu perfil encontram-se indivíduos que não conseguiram se apropriar da leitura e da escrita, o que indica que a escola está fracassando frente a este grupo de jovens, no qual se concentra uma maioria do sexo masculino. Desta forma, o baixo desempenho tem sido mais relacionado aos alunos do gênero masculino. A questão do fraco desempenho escolar dos meninos tem recebido ampla atenção, especialmente nos países de língua inglesa (e secundariamente também na França), tanto na mídia quanto na pesquisa acadêmica e entre os formuladores de políticas educacionais. (Carvalho, 2003)

            A complexidade do debate, contudo, tem indicado que múltiplas dimensões interferem nesse processo e que é preciso levar em conta tanto as condições socioeconômicas e culturais de origem da criança, as condições de funcionamento das escolas, o preparo dos professores, os critérios de avaliação, entre outros aspectos. O que é necessário considerar é o fato de que, dentre o grupo dos alunos que fracassam na escola, ou diante dos quais a escola fracassa em ensinar, os meninos são em número maior que as meninas (Carvalho, 2001).

Além do ambiente escolar a família tem sido considerada como um importante fator no processo de aprendizagem escolar dos estudantes. A literatura aponta diferentes aspectos presentes no ambiente familiar e que se relacionam com o desempenho escolar de estudantes entre eles; a violência intrafamiliar (Pereira & Williams 2008; Pereira, Santos & Williams, 2009); a participação dos pais no processo de escolarização (Hong & Ho, 2005; Cia, Pamplim & Willians, 2008); o suporte parental e as práticas parentais (Camacho & Matos, 2007); o envolvimento paterno (Cia, D’Affonseca & Barham, 2004); o envolvimento materno (Costa, Cia & Barham, 2007); a interação entre pais e filhos (Bong, 2008); e as expectativas e as crenças familiares (Molnar, 2000; Englund & Luckner, 2004). Além dos aspectos citados, os estudos demonstraram que algumas condições presentes no ambiente familiar também estão relacionadas com o desempenho acadêmico tais como, a presença dos recursos materiais e humanos (Marturano, 2006; Guidetti & Martinelli, 2009); bem como o nível socioeconômico das famílias (Jiang, 2004; Santos & Graminha, 2005). Os resultados da pesquisa realizada por Martinelli e Aguena (2011) indicou que, as crenças e as atitudes dos pais estão também relacionadas com a motivação escolar dos estudantes. Assim tem-se considerado que o contexto familiar tem um papel fundamental, não somente no desenvolvimento físico, emocional e social de crianças, mas também no desenvolvimento cognitivo e na aprendizagem, no contexto escolar ou fora dele.

            Considerando este contexto da diferença do desempenho escolar entre gêneros, e a importância do ambiente familiar no processo de escolarização de estudantes, o presente estudo teve o objetivo de verificar se existiam diferenças relativas ao gênero quanto aos tipos de crenças e atitudes dos pais. Participaram desta pesquisa 262 alunos, do 3º e 4º ano, de ambos os sexos (sendo 132 meninas e 130 meninas), com idades variando de 7 a 13 anos, e seus respectivos pais, provenientes de três escolas da rede estadual de ensino de uma cidade do interior do Estado de São Paulo. A coleta de dados seguiu os seguintes procedimentos: os pais responderam a uma Escala de Avaliação de Crenças e Atitudes dos Pais (EACAP- Martinelli & Aguena, 2009) e que tem como elementos de análise as crenças dos pais na capacidade e conduta dos filhos (11 itens); envolvimento parental na rotina da criança (7 itens); atitudes participativas dos pais no processo de escolarização dos filhos (7 itens) e suporte afetivo (6 itens).

            As análises revelaram que foram identificadas diferenças entre os sexos apenas em relação às crenças dos pais na capacidade e conduta dos filhos (F=12,47 e p=0,04). O dado revelou que os itens que apresentaram diferenças foram: Eu acho que meu filho é um bom aluno (F=21,96, p=0,014), Eu acredito que meu filho está indo bem na escola (F=40,79; p=0,001) e Eu acredito que meu filho respeita as pessoas (F=40,10; p=0,003). Desta forma, os resultados indicaram que os pais responderam mais afirmativamente a essas questões para os filhos do sexo feminino, ou seja, houve por parte destes pais uma frequência mais baixa de crenças positivas de conduta e capacidade em relação aos meninos. Embora não se possa falar de uma relação de causa e efeito pode-se, a partir deste resultado, aventar a hipótese de que estas crenças podem estar relacionadas a um menor rendimento escolar por parte dos meninos, o que abre possibilidades de novos estudos focados sobre esta temática e sobre suas relações com o desempenho escolar dos estudantes.


Palavras-chave


Ambiente Familiar, pais, gênero

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