Última alteração: 2012-07-15
Resumo
A literatura especializada caracteriza o “perfeccionista patológico” como um indivíduo que estabelece altas metas de desempenho, dedica-se com afinco na execução das suas tarefas, mas é incapaz de satisfazer-se com sua atuação, de modo que refaz seu trabalho várias vezes, buscando atingir um resultado que, ao seu ver, nunca é alcançado. Parece que ao perfeccionista sempre falta algo, ainda que, aos olhos da sua comunidade verbal, seu desempenho e desenvoltura sejam grandemente apreciáveis e dignos de reconhecimento. Se o perfeccionismo é, conforme usualmente definido, a busca incessante pela perfeição, faz-se necessário fomentar discussões e reflexões acerca desse tema. E é nesse sentido que se pergunta: o que é perfeição? É possível atingi-la? Quais os interesses políticos, sociais, ideológicos e econômicos por trás da manutenção midiática e estatal da utopia de que é possível atingir um modo de ser perfeito? E, em última instância, existe perfeição? O objetivo deste trabalho foi discutir essas questões com base nas críticas psicológicas e sociais ao conceito de psicopatologia tecidas pela Análise do Comportamento e pela literatura psiquiátrica. Será argumentado que a explicação do perfeccionismo em termos analítico-funcionais coloca em xeque a noção de psicopatologia, além de indicar caminhos para a construção de classes comportamentais incompatíveis ao padrão perfeccionista. Isso, no limite, cria condições para que o indivíduo contra-controle as exigências impostas pelo contexto em que está inserido, e passe a discriminar os excessos de coerção que controlam seu comportamento, bem como desenvolva a habilidade de exercer auto-reconhecimento.